terça-feira, 20 de janeiro de 2015


Quantos homens ao longo da história
ao povo anunciaram o perigo
que, sorrateiro, ia avançando,
sem compreender do povo a apatia.

Tal deu-se com o povo da aliança –
recordando um exemplo tão distante –,
o mesmo com países da Europa
diante do fascismo e do nazismo.

O mal foi-se enfronhando lentamente
e todos creram que era impossível
acontecer o que era anunciado,
até o mundo ver-se em outra guerra.

Eu temo pelo Nome de Jesus,
que aos poucos vai sumindo de entre o povo
que, perdendo sua fé e identidade,
prepara-se para ser dominado.

A lua e a estrela se aproximam,
querendo ofuscar o próprio sol
e quando os cristãos se aperceberem,
às catacumbas já terão voltado.




Na medida em que vou envelhecendo
e revivo histórias do passado
ou me deparo com fotos antigas,
vou tendo consciência do que sou,
mas muito mais do que eu queria ser.
Outras sendas traçou a realidade,
levando-me aonde não sonhei,
mas onde eu me encontro atualmente.
Não há mais como eu voltar atrás,
no entanto o olhar para o passado
produz em mim sorriso e consolo
por revelar-me o meu pentimento.





Eu me lembro que chovia
tanto quanto as minhas lágrimas
quando meu pai me levou
para ver a minha mãe
que jazia em um caixão.
Entre rostos conhecidos
caminhei ao lado dele,
abraçado sob a chuva.
Outras lágrimas às nossas
se juntavam no percurso
da casa vizinha à sala
onde a mãe era velada.
Da face de minha mãe,
lembro de uma violácea
mancha próxima à sua boca,
que nunca soube o que era.
O vestido que trajava
era verde e florido,
um dos mais belos que tinha
e que deixava mais linda.
Quatro décadas depois,
tenho só estas lembranças.
Na manhã de um novo ano,
eu me lembro que chovia
tanto quanto as minhas lágrimas.
Eu chovia com o céu
e o céu chorava comigo.


ENTRE TÚMULOS



Aprendi com uma tia
a andar por cemitérios,
a buscar nas tantas campas
as histórias escondidas.

De que morrera a criança
cuja foto desbotada
talvez fosse a imagem única
da vida cedo ceifada?

Sempre chamou-me a atenção
as pessoas jovens, belas,
cujos retratos nos túmulos
as mostrava como em festa.

Curiosas velhas datas,
que a exercitar levavam-me
uma simples matemática
para descobrir idades.

As primeiras emoções
que os mausoléus causaram-me
foram com casais em fotos,
pouco tempo separados.

Toda uma vida juntos,
quando a morte um levara,
o outro vivera em saudade,
logo indo a seu encontro.

Eu cresci e continuei
a passear em cemitérios,
descobrindo belas artes
e o sepulcro de famosos.

Pelas capitais do mundo,
quantos campos visitei,
onde a história dos sepultos
ali continuam vivas!

Mas há cruzes espalhadas
em diversos campos santos,
que comove quem as vê,
sendo chagas deste mundo.

Com pesar e indignação
visitei, quando em Lisboa,
o Cemitério Inglês,
bela cidade dos mortos.

Comoveram-me as lápides
de inúmeros soldados
mortos na Primeira Guerra,
sepultados n’outra pátria.

Eram jovens, muito jovens,
e a guerra amputou-lhes
a juventude e a vida
e o descanso em terra inglesa.

Quantos sonhos enterrados!
Quantos talentos ceifados!
Quantos filhos sepultados
longe  e antes de seus pais!

Se há desumanidade,
esta tem o nome “Guerra”,
pois mata o que há de humano
em cada filho de Adão.

São alguns que a guerra fazem,
mas são outros os que a lutam.
Alguns poucos dão as ordens
E são outros que a executam.

Se os que armam as guerras
circulassem entre túmulos
e buscasse as histórias
e os sonhos sepultados,

se ouvissem tantos pais
e esposas e os filhos
co’os corações mutilados,
quiçá a guerra cessariam.

Entre túmulos caminho,
tendo em mim tais pensamentos.
Paro em frente a uma flor
que abriu-se em meio à morte.




Quantos buscam nesta vida ser felizes,
apartando-se dos outros, isolando-se,
sem saber que a alegria verdadeira
só existe quando é compartilhada.

Quem se isola vai perdendo a humanidade
e seu coração aos poucos endurece.
Vai deixando de no outro um irmão ver
e se sente rodeado de inimigos.

Se homem conhecesse o valor
que um abraço puro e forte em si contem,
passaria a abraçar todas pessoas
e encontrando a alegria que em si busca.

O abraço é intercâmbio de amor,
que enriquece quem o dá ou o recebe.
Torna a cruz de cada dia mais suave
e restaura-nos em nossa humanidade.




Meditando sobre Deus, o Criador,
sobre tudo o que existe no universo
e  que nada antes Dele existia,
compreendo o que Francisco concluiu
e o fez chamar de irmãos todas as coisas.
Se, como ensinou Jesus, só Deus é Pai,
esta Terra, criação – como eu – de Deus,
não a posso chamar mãe, mas minha irmã.



Volte p’ra mim, ó passado,
traga-me a juventude
de volta àqueles momentos
em que errei a opção
ou a coragem faltou-me
para lançar-me à vida.
Mas os meus erros trouxeram-me
onde agora estou,
ao lado dos que amo hoje,
sem os quais não sei viver.
Sem coragem eu deixei
de conhecer tantas terras,
tantos povos e outras línguas,
no entanto experimentei
outras vidas em mi’a vida.

Ó passado, não volteis,
viver o que sou deixai-me.
Se eu trilhasse caminhos
outros que os não trilhados,
não sei onde eu estaria,
que eu teria a meu lado,
como eu me sentiria.
Cada opção no passado
determinou meu futuro,
que hoje é meu presente.

Imutável é o passado
e aceitar devo o presente.
Se algo posso mudar
é parte do meu futuro.
Não volteis, ó meu passado,
pois não pertences a mim.
Aguardo eu, ansioso,
o que o futuro reserva-me.